terça-feira, 21 de março de 2017

MEU POLYSTANTION PESA UMA TONELADA





Segundo o wikipedia, doppelgänger é uma linda palavra alemã que significa, em termos bem pobrinhos, sósia, cópia, um player two que anda por aí fazendo coisas erradas – ou certas, dependendo se você for o vilão do jogo. “Interpretado pelos místicos como sendo uma criatura sobrenatural”, diz a Barsa da Internet, “uma cópia espiritual ou então um gêmeo demoníaco que traria confusão à vida da pessoa”. Confusão. O motor de livros, ratos e homens. 

Na literatura, das seis ou sete tramas que mais se repetem a campeão talvez seja aquelas que narram uma procura por duplos, por gêmeos, por respostas através do espelho onde a mensagem que pisca ao final é mais ou menos igual a dos fliperamas: Insert Coin. Insira uma ficha para continuar...

Um dos primeiros doppelgänger que tive o desprazer de conhecer foi o famigerado Polystantion, o irmão Franksteniado de um dos videogames mais populares do mundo, o Playstantion 1. O original rodava games de última geração com qualidade gráfica de 32 megabytes em CD’s Rooms. Já o seu Mister Hyde só recebia cartuchos de 8 bytes, cópias das cópias do Nitendinho, jogos tétricos que não distraiam nem um garoto cego.

Milhares foram as crianças educadas na dor e no desespero ao se depararem com o Polystantion em cima da cama ao invés do primo rico da Sony®. Semelhantes a esses melancólicos, cuja primeira aula sobre a vida e suas derrotas veio através da pirataria, milhares também julgaram estar fazendo um grande negócio ao comprar o amor de uma criança por cinquenta reais na feira, ou no vale das sombras da infância. 

O meu pai quase, quase, foi um desses, mas ele, nesse Mortal Kombat dos equívocos conseguiu a proeza de se superar. Foi numa tarde cheio de guaraná alcoólico na sua unidade de comando que ele telefonou para minha escola dizendo que tinha comprado (arroto) o videogame (arroto) que eu tanto (arrotinho) queria. No auge dos meus mal vividos e bem cariados doze anos aquela ligação foi uma das grandes emoções que tive. Mas como cada fase sempre é precedida por uma mais complicada... 

Meu pai sabendo da insanidade que era presentear uma criança com um Playstantion foi logo advertindo no telefone: Era usado o game e não pode vir com os controles; admitiu que o conseguira como parte de uma divida antiga com seu irmão, meu tio. E eu, do outro lado da linha quente, pensei logo em Fabinho, meu primo. Pensei no dinheiro que meu tio, pai de Fabinho, devia para o meu velho e pensei nos dois videogames que Fabinho tinha. Um Poly e um Play. Algo como ter um celular lanterninha para os ladrões e um Iphone para exibir.

Fabinho tinha o Super-Homem e o Bizarro dos videogames. Torci, enquanto corria para casa, para que meu pai houvesse (roubado) pego a Coca-Cola e não a Astral-Cola virtual.

O abraço paterno e a declaração de amor incondicional podiam esperar. Abri a porta do quarto e aquela brancura plástica de ficção-cientifica, estava lá, reluzindo em cima da cama, metamorfoseado numa... Sanduicheira grill, modelo bello pane, da Britânia®. 

Meus tios eram desses que exibiam tudo de valor na estante da sala e na correria, com umas a mais no seu processador, meu pai confundiu tudo que vinha com um fio elétrico e acabou pegando o que mais brilhava na estante.  

Game over.
Cid Brasil