quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

COMO ROUBAR LIVROS


(Foto: Revista New Yorker)



Eu já roubei livros. Hoje não mais. Mentira: Eu roubo livros sempre que os atendentes estão distraídos ou sempre que os seguranças ficam me encarando só porque estou ali aproveitando do ar-condicionado na maior inocência. Roubar livros só não é mais fácil do que tomar cafezinho expresso de graça fingindo-se de pagador distraído: Após beber, leve a xícara até o balcão e diga obrigado e saia na maior cara de pau (óbvio que só funciona nos lugares onde se tem que pagar depois de consumir; se tiver de pagar antes, pague, afinal, esperteza tem limites!) e se a balconista disser que você ainda não pagou o café você bate a mão na testa e diz: Aí, é mesmo, desculpa! Sua atitude visa plantar a dúvida, já que você não está saindo de fininho, como um bandido. Foi educado e levou a sujeira até lá. Eu é que me distraí, ela vai pensar e ainda vai agradecer seu gesto de devolver a xícara no balcão. Mas venho até vós para falar da arte de roubar livros e não da arte de tomar cafés após praticar a arte de roubar livros. 

1 – Você entra numa livraria já portando algum livro na mão, o ideal é estar com mais de um livro– pois esses de casa terão de servir de estojo para o(s) que você irá pegar na livraria – entrar com dois livros na mão são a perfeição (pois ninguém, exceto um ladrão de livros com o furto fresquinho anda com três livros a tiracolo por aí). Olhe as prateleiras, leia as lombadas, desdenhe dos livros de gente da internet... Esses passos são importantíssimos para que você possa sumir entre o público do estabelecimento perante deus e os funcionários. Quando algo te interessar, ponha os livros que você já carrega embaixo do braço e folhei o da prateleira. Importante: Nunca furte o primeiro que você pegou, demore, leia vários até dar o bote certeiro que é o de puxar dois de uma vez e devolver só um a prateleira. Seja rápido e atrapalhando ao mesmo tempo ao envolver o da loja entre os da sua mão. Os seguranças não manjam se você entrou com dois Kafkas e está saindo com um Joyce a mais... Livros, para eles, são como seguranças de lojas para você: São todos idênticos uns aos outros. 

2 – O ideal é uma mochila nova para mostrar que você não é um pobretão, se você for mesmo muito pobre e sua mochila for aqueles gatos atropelados, tem que ser aquelas sacolas de papelão, grande e com alcinhas, de boutiques. Aqui o esquema é quase o mesmo no quesito tempo e escolha. Leve cinco ou seis até o sofá naqueles espaços de leitura que há em livrarias. Os cinco ou seis livros que você pegar tem de ser aqueles que você quer muito ler ou ter. E em edições bacanas, caras! Porque se o livro for ruim, dá para revender ou trocar por outros nos alfarrábios. A certa altura, finja que vai pegar um caderno ou outra coisa na mochila e deixe-a aberta: É ali que será posto o furto, mas um passo importante é não fechar o zíper de imediato, calma... Folhei os outros quatro, ou três – no caso de você ter se empolgado e colocado dois direto na mochila. Se for a sacola é mais fácil, ela já estará aberta e o procedimento é igual. Câmeras de segurança em livrarias são uma baita lenda. São iguais aqueles livros de pintores famosos: Mera decoração do ambiente.

3 – Compre um livro barato na livraria e logo em seguida finja-se de esquecido e volte lá. Percorra as prateleiras e embolse algo de mais valor. Mesma maneira de agir e pensar das outras duas situações.

Dica: Não tema aquelas etiquetas magnéticas que ficam coladas nas contracapas dos livros e que apitam nos sensores nas saídas: Aquilo é caro e os livreiros não colocam em todos os livros, só em alguns e nos mais caros. Outra excelente dica é andar com dinheiro para o caso de flagrante.

Cid Brasil

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