domingo, 17 de novembro de 2013

DIA PERFEITO





Tenho uma tia, metida a frasista, que dizia que tudo tem seu tempo... – Pensando bem, todo mundo deve ter uma tia que fala assim, portanto se você ainda não tem, tenha calma: Até para isso tem tempo -. Mas o fato é que tem coisas que mesmo no tempo acontecem meio tarde, uma delas é conhecer o som do Lou Reed.

Fui apresentado da seguinte forma: Li num blog que um professor no dia da morte do mister Reed, pôs para seus alunos de onze anos para ouvirem a música “Perfect Day” e disse apenas que era daquele cara a quem os jornais falavam que tinha morrido. As crianças ouviram a música num silêncio que fez a garganta do professor dar um laço. Quando ouvi a tal música, entendi as crianças e o silêncio delas, a música dessas que pedem para ser ouvidas assim. É uma canção simples, que fala sobre um dia simples onde beber no parque e ficar ao lado de quem se gosta é uma dessas coisas que seguram nossa barra.

O meu amigo Lou canta isso de uma forma tão bonita que se eu colocasse aqui qualquer outra palavra estragaria. É assim: Bonito. Como o tal dia em que ele fala na música; desses momentos em que nos deixam respirando se não por mais um dia, às vezes até por uma vida inteira. Quando ele morreu no dia 27 de outubro, confesso que não dei muita bola para aquele senhor de 71 anos que morreu de forma tranquila ao lado da família. Só três semanas depois do ocorrido, já ouvindo no repeat desde ontem não só o disco “Transformer” como a música do dia perfeito, fiquei enumerando os dias assim que tive e todos eles foram iguais a forma como o meu amigo Lou Reed canta o refrão da música: Sem gritar, sem euforia, iguais aos momentos que nunca esqueceremos, que são aqueles num quarto escuro, num dia meio cinza, numa xicara de café ou num filme do Woody Allen. Enfim... Outra coisa que pensava enquanto ouvia era: “Preciso escrever uma crônica, preciso escrever uma crônica...”. Só para não deixar batido a minha ignorância em só conhecer o som desse cara aos vinte e cinco anos de idade e também porque crônicas se prestam a ser assim, iguais à música. 

É por isso que vou parar de reclamar comigo mesmo de que sou um cara apressado, que muitas vezes nem percebe que o dia perfeito de ontem aconteceu numa madrugada ouvindo um senhor do Brooklyn cantar um clichê de uma forma mais clichê ainda dizendo que nos só iremos colher o que plantamos. – E mesmo assim me emocionar.

Eu nem queria acabar esse texto aqui, mas a minha tia lá tem razão naquelas frases feitas das tias, tudo acaba, tudo tem um fim. Até as crônicas, até os grandes artistas, até os dias, até a agente e até o CD do Lou Reed.

 Cid Brasil

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