quarta-feira, 7 de agosto de 2013

A GRANDE FESTA



 
(Brandt Kensington)

Ainda havia muita cerveja gelada, para pouca gente sóbria. Todas as tias levaram seus salgadinhos. Os que passaram o dia em jejum saíram satisfeitos. Os chatos se contentaram. Penetras tinham convites. A única briga foi para cumprimentar os noivos mais de uma vez. Falar mal só se fosse por que tinha acabado. 

Dali já se saia lamentando que outra daquela nunca mais. A festa impossível existiu!

‘Como aquele casal pobre poderia bancar uma festa de casamento daquele tamanho?’ - É o que hoje ousam falar os críticos. Foram cinco anos trabalhando, cinco anos de espera, cinco anos aplacando ansiedades – Suas e da esposa. Ela merecia, ele idem e os dois mais ainda. Comentam até hoje do impecável terno do noivo; do brilho do vestido de sua companheira; do tamanho do bolo (‘se é que não eram três!’ - contam); dos músicos que não se cansavam; da infinita quantidade de: Carne, cerveja e convidados.

Do patrão ao vira-lata, todos foram unânimes em desejar que a felicidade dos noivos fosse como aquela noite: Que nunca tivesse fim - O que realmente nunca aconteceu. 

Após a grande noite, Preto se mudou daquele bairro. Estava com isso feita a lenda: Dele, Dela e da festa. Hoje, o casal já caminha para as bodas de Rubi. O destino de muitos se escreveu naquela noite. Certos casais do bairro do Rio Novo começam sempre contando seus inícios com ‘foi no casamento do Preto... ’.

A casa do sogro foi o local, mas dizem que na verdade foi bairro inteiro o salão de festas. Ele fez valer os cinco anos empunhando bandejas, anotando pedidos e juntando gorjetas para realizar aquela festa superlativa. Em respeito a si mesmo, até os garçons da festa se divertiram – Se é que não foram todos padrinhos. Ninguém entendia bem por que fazer uma festa daquelas proporções: Eram as pessoas de lá muito humildes ou o noivo megalomaníaco? Ninguém quis desvendar tal mistério.

Até hoje tentam copiar em vão; até hoje as portas tem sobre o que fofocar e até hoje serve de auxilio pros desmemoriados: ‘Foi antes ou depois do casamento do Preto?’. – E o tal do até hoje foi para sempre.

As moças reprisam as impressões relatadas por suas mães em horas de tédio.

Os rapazes chutam latinhas dizendo: “Eu quero uma festa como a do Preto!”.

Os velhos se calaram para sempre, respeitando a máxima do padre.

AS festas de Jay Gatsby ficariam no chinelo perante aquela; Madame Bovary passaria outro romance correndo atrás de um vestido digno para aquele casamento; e ‘O Leopardo’ seria mais agitado com Alain Delon, Claudia Cardinale e Burt Lancaster filmados no casório do Preto.

Se perguntarem para o noivo, escutarão apenas como resposta ele dizer que aquilo não foi bem assim. Não é de falar muito sobre, o segredo pelo que contam é esperar o Preto passar, e dizer que ele é um bom sujeito, pois alguém irá sempre retrucar que ‘bom mesmo foi aquela festa... ’.

E foi assim que ouvi.

Cid Brasil

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