quarta-feira, 12 de junho de 2013

POR DE TRÁS DO BALCÃO



(Henri de Toulouse-Lautrec)



Ao levantar a cabeça vejo um homem por de trás de um balcão. Percebo isso através do vidro que me cerca. Ele está escrevendo dentro daquele caixa. Esse homem que vejo não me engana: Estou cansado. 

Ao meio dia todos são clientes cheios de razões, idiossincrasias e pedidos de descontos.

Ás sete da noite creio que já posso chama-los de personagens.
A menina com ares de Lolita, o sósia do Antônio Fagundes, um gordo que se esvai em suor e aquela a quem Nelson Rodrigues batizou de a ‘grã-fina com narinas de cadáver... ’. Prometiam muito com as imagens que refletiam, mas com esses não fui além de um: ‘Obrigado e até a próxima!’. Nada me levaram. Nada me pediram. Nada me tomaram.

O reflexo que vejo no espelho defronte continua estático.

Há ainda os que eternamente vejo desfilar trazendo suas fomes e angústias. Algumas putas cansadas comprando cigarros, um casal arrependido de sua condição de casal, um homem que está bebendo sozinho e um senhor encurvado pelo tempo. Tenho por estes também um tímido sentimento de irmandade (Que só percebo agora nestas linhas). Simpatizo eles e com suas estórias que ouço – Ou invento. Vou aliviando assim a rotina de minhas retinas. Todos estes são irmãos do homem de trás do balcão.

São todos reflexos de um espelho manchado.

Talvez sentindo essa cumplicidade, um homem que bebe se levanta da mesa 39 e vem na minha direção falando ao celular, me pede uma caneta e uma folha: ‘Emprestadas’. Levando assim o rumo destas linhas e o berço da crônica de amanhã. Creio ainda ser cedo para dizer também que ele levou algo meu.

No retorno da caneta, percebo na antiga folha de minhas angústias um feixe de linhas azuis paralelas cortadas por uma transversal: Formam um caminho. Ele percebe que eu percebo e me conta aonde aquele mapa o levará: ‘Para um lugar lá no centro... ’. E me diz que um amigo acabou de ver sua ex-mulher em um bar abraçada a outro homem. O telefonema entregou o mapa da mina – Ou de sua ruína.

O homem do mapa não é de Maceió, me conta ainda que isso não importa: ‘A pé, de ônibus ou taxi’ ele chegará lá está noite. Meu pedido para que abandone seu plano é tão esmaecido quanto o meu reflexo de agora. Um apagado ‘telefone amanhã rapaz!’ nem é escutado pelo dono do mapa. Antes dele se virar, tento um último recurso. Um último aviso para que tenha cuidado com o que o espera. Que evite alguma bobagem.

Ele pergunta meu nome e diz que tem de ir, pois o homem que está abraçando sua ex-mulher é o seu irmão. Paga a conta e finalmente se vai.

Acompanho sua saída através do espelho, nisso passo os olhos por um calendário e vejo que hoje é dia dos namorados.

Cid Brasil

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