quarta-feira, 15 de maio de 2013

A QUE PARTIU





(Léon Spilliaert)




Esse CD... O eterno CD que escuto nessas horas. Decorei apenas o nome da primeira música, as outras nem sei, ouço o CD inteiro sempre no repeat. Já ouvi tanto essa de número um que dentro dela, já consigo mentalmente emendar o sax que inicia a segunda... Assim até o final. É um pouco como me sinto ao pensar mais uma vez em você. Embora não saiba seu nome completo. Só o primeiro. Mas sei quando vou começar a lembrar de ti e onde acabara. 


Não nos conhecemos, ou melhor, (ou pior?) sabemos da existência um do outro. Só isso. Não sei o que você gosta de comer, beber ou ouvir. Sei onde você trabalha; foi lá que te conheci, e é só. Será que gostas daí ou ganha tão bem a ponto de se enganar dizendo que sim? Penso sempre nisso, sempre depois de lembrar o teu nome. Por aí vou me perguntando se tens amante, marido ou namorado. Sinceramente não perco o sono por isso, perco por você, não por esses que nem sei se existem. Você eu sei. Venho pensando em você há dias, assim como esse CD. Um dia antes desses, eu te vi passar na rua, na minha frente, na porta de um banco, te vi e até esqueci a quantas andava eu lá no juros especial. Te segui até uma quina e... Parei. Você que seguiu, atravessou a rua e sumiu. Por que não falei contigo? Logo eu tão razoável em inventar assunto; olha, acredite sou bem melhor do que escrevendo... Travei. Chegar lá e o que? Me apresentar? – Sim! Devia te chamar e gritar: Hey! Tudo joía? Sou o fulano de tal, prazer! – Tu não recordarias de mim, eu sei, foi muito rápido o nosso primeiro oi. Era meio dia aquele dia, poderia perguntar se você tinha almoçado... Eu já, mas almoçaria de novo, só assim saberia o que você gosta, só não abriria mão de comer doce de leite novamente, e você? Iria te fazer rir nesse almoço, com o que nem eu sei, talvez com minha falta de bons modos... Só que nesse meio de dia eu não soltei o tal: Hey! Tudo joía? Sou o fulano de tal... Nesse dia fui só as reticências.


Então só posso te dizer daqui que estavas bonita com aquele cabelo mezzo vermelho, mezzo castanho; assim como na justa blusa da empresa que você vestia – E és, a única de lá que combina naqueles tons. Teve outro dia, bem depois do primeiro oi, que te convidei para assistir uma peça em que eu atuava, disseste que gostava de teatro. Só. Nem que ia ou não ia. Não foi. Tudo bem, aquele dia fui péssimo mesmo: Entrei atrasado e esqueci uma fala, igual no dia que não te conheci. Esse dia era uma terça (ou quinta?) de sol, diferente dessa madrugada de agora ou do dia que foi hoje. Falando nisso, fui lá hoje, já saí do banco atento, olhando, te catando... Iria fazer tudo que não fiz.


Depois de pensar no nisso, sei que depois vou me perguntar: Será que você sonha ou no mínimo dorme bem há esta hora?


Talvez esteja acordada por causa de algum idiota que ronca agora. Se sim, te digo que não chore, ele é um canalha ao cubo, não te merece, só estava fazendo hora contigo. E se ele não fez nada disso e não é nenhum canalha, pois é um bobo, um palerma sem iniciativa, não propõe nada ou te chama para sair. Nem conversa sobre cinema ou música. É um tolo, concordo contigo. Saiba que em matéria de tolo e palermice, sou experiente como viu – ou não (me) viu! A proposito, o filme novo do Ricardo Darín, já viu? Não conhece? É um puta ator argentino; dos melhores – Argentino também. Mas o filme é fraco, sem poesia ou lirismo, chama-se ‘Elefante Branco’ – É eu sei! Igual eu fiquei lá naquela esquina, feito um, só que moreno. 


O CD... Ele já tá acabando, falta uma música só, já o conheço, ele eu conheço, assim como eu, que nessa hora exata da última música, é o momento de ir. Vou ter de ir agora, acho que consigo dormir. Creio que sua imagem se indo irá (me) deixar dormir agora. Você de costas me deixando... (mais uma vez!).


Cid Brasil
 

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